Chovia e trovejava.
A porta da frente estava aberta de par em par e havia um rasto de pegadas de lama a atravessar a entrada. Não eram pegadas de gato e não tinham o tamanho dos pezinhos da Bruxinha. Eram três diferentes pares de grandes pegadas.
o Gato e a Bruxinha, um pouco assustados, foram andando, sorrateiros, seguindo as pegadas até à sala onde encontraram três vultos com coroas na cabeça e mantos pelos ombros. Os três senhores, quando viram a Bruxinha, desculparam-se muito atrapalhados.
- Minha querida princesa, perdoai-nos por termos invadido assim o vosso castelo. Mas estávamos muito cansados e com aquela chuva lá fora…
“Princesa, princesa…” repetia o gato a rir . “Cala-te Gato”, disse baixinho a Bruxinha.
- Não sou uma Princesa, nem esta casa é um castelo mas não tem mal terem-se abrigado da chuva. Fiquem à vontade. Mas quem sois?
Melchior, Baltasar e Gaspar, assim disseram chamar-se fazendo uma vénia e grandes salamaleques.
- Viemos para a Epifania.
- Para a Epifania? O dia de Reis? Mas isso foi no dia 6 de janeiro. Chegaram tarde.
- Sabemos disso. Para nossa desgraça! Perdemo-nos. Tudo por culpa do Gaspar.
- Eu segui as luzes. Há dois mil anos que seguimos uma estrela e que nos leva a sítio certo. - disse Gaspar
-Uma estrela dizes bem. Não era uma constelação inteira!
- Aqui bem dizia que era para outro lado. - Disse Baltasar.
- Esse retângulo diabólico que compraste sabe lá! - Diz Melchior.
- Se não tivesse ficado sem bateria sabia, sim. Levava-nos direitinho ao sítio certo.
- Viemos para a Epifania. |
Os três Reis falavam e falavam e discutiam. O Gato e a Bruxinha olhavam espantados.
- Em dois mil anos nunca falhámos esta tarefa! Entregar ouro, incenso e mirra a um querubim que nasce em Belém… Mas, este ano o Gaspar estragou tudo. Para além de nos termos perdido, descobrimos que ele não trazia o ouro…
- Foi um erro colossal! – Disse o Melchior.
- Mas eu não tive culpa - gagueja o Gaspar - já vos expliquei: o mercado…
- Ai, já nos contaste essa história umas quantas vezes. Que tédio! – disse o Baltasar bocejando – E não muda nada. O miúdo ficou sem presentes e a culpa é tua.
Gaspar, que era o mais novo dos três, ainda tentou muito calmamente explicar mais qualquer coisa mas calou-se ao ver o ar zangado de Melchior, o mais velho.
Baltasar disse que só uma nova epifania podia salvar este ano.
- Uma nova epifania? Uma epifania? Uma ideia rutilante? Claro! Podem ainda dar prendas, às crianças.
- Mas como?
- As crianças não precisam só de ouro… Eram capazes de contar uma história?
-Temos mais de dois mil anos de história.
-Então podem ir contar aos meninos e meninas das escolas?
- Claro que sim! – disseram todos.
- Ótimo!
E, enquanto comiam torradas e bebiam chá com cacau e gengibre, fizeram planos para começar logo no dia seguinte a contar histórias por todo o lado. Havia tantas crianças a presentear. Tanta gente a precisar de palavras.
Os três reis recostados no sofá e o gato enroscado numa almofada, aos pés deles, acabaram por adormecer cansados. Todos a dormir, pareciam saídos de uma lapinha. A Bruxinha sorriu, fechou a porta da sala e saiu sem barulho.
"Três reis para contar histórias às crianças é uma excelente ideia. Vou já escrever ao meu amigo António Mota a perguntar se ele não quer também participar. Já imaginaram uma história fresquinha acabadinha de inventar pelo António? Com palavras escanifobéticas para o Paulo pôr lá no blogue?… Tenho de escrever ao Paulo a falar do assunto e à Maria. Ai, esqueci-me da Maria! Ela precisa de desenhar estes Reis Magos que aqui apareceram. Parece que escrever cartas vai ser a minha tarefa de hoje. E também tenho de ir às compras. Vou comprar legumes e muita fruta. Com tanto que xurdir precisamos de uma alimentação saudável."
A Bruxinha vai até à Biblioteca, senta-se, abre o computador e começa a escrever.
Lá fora, chovia e trovejava.
(continua)...
(continua)...
Texto: Sílvia Alves
Ilustrações: Maria del Toro
Gostava de a ler toda. Bjo. Esmeralda. Certo
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